quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A chuva e o sentimento


Não sei quem inventou o termo "tempo bom", mas sei que, certamente, essa pessoa não nasceu no sertão.

Tempo bom, no jargão popular, se refere ao céu sem núvens, sem chuva, com sol e calor.

Pra mim, tempo bom é aquele que tem vento, brisa, trovão, menino correndo, cheiro de terra molhada. Tempo bom é aquele que molha a alma, que banha o coração e faz os olhos encharcarem. 

Tempo bom é o que alimenta, e confesso que nunca vi nascer uma planta sem uma gota dágua. Tempo bom é o que mata a sede. 

Gosto de olhar pro céu e deixar imaginar a chuva chegando, as nuvens subindo, a brisa mudando, esfriando, o céu escurecendo no meio da tarde, o desespero dos pássaros em busca de abrigo.

Tento adivinhar em quanto tempo a chuva chega, quase sempre erro, mas finjo que tenho meios de prever a velocidade do vento, a direção das nuvens e a intensidade das gotas. Gosto de brincar de Deus, não como forma de afrontá-lo, mas talvez como forma de agradecê-lo por nos presentear com algo tão magnífico.

Afinal, que tipo de alimento é esse que cai dos céus? Que tipo de dádiva nos traz algo tão vital e tão gratuito, que já chega limpa, pura e pronta para o consumo? Minhas tentativas (vãns) de adivinhar a natureza é uma forma de gratidão, de submissão e de contentamento.

Por vezes me pego dizendo: - que saudade de brincar na chuva, correr de pés descalços, construir barragens na pequenas grotas que se formam na terra, na próxima chuva farei tudo isso. 

As chuvas vêm e vão e nunca tenho coragem de me deixar regredir à minha infância, momento de magia irresponsável, onde a diversão é prioridade e a opinião alheia é ignorável.

Quem sabe um dia, com meu filho, eu me permita voltar a brincar na chuva, quem sabe eu volte, me permitindo não apenas sentir esse prazer, mas também viver esse sentimento inafastável em todo sertanejo.

A chuva para nós não é apenas um tempo bom. Chuva é um sentimento que se confunde com alegria, saudade, fé... ver um tempo chuvoso é como olhar pro próprio coração em lágrimas, chorando de felicidade... ver um sertanejo brincando na chuva é como ver o próprio Deus...onipresente, onipotente, mas incansavelmente misericordioso...hei de vê-lo em mim novamente um dia...

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