Antes, uma pausa para minha relação com a
profissão. Particularmente, gosto muito de ensinar. Gosto de matemática
e gosto de entender matemática. Passar adiante minhas paixões é algo
que faço por amor. Nunca houve problema sério o bastante para não
desaparecer diante do quadro, dos alunos e sobre o tablado. Dar aula e
pensar a respeito de matemática apagam, momentaneamente, claro, todos os
meus problemas.
"FAZ PROVA FÁCIL"
Minha felicidade se esvai diante das avaliações, dos comentários, da falta de compromisso dos alunos. Ouve-se mais “alivia aí, fessô!” do que “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite.” Há liberdade para chorar, mas não há liberdade para a educação e cortesia.
"VALE PONTO, PROFESSOR?"
Em sua maioria, aluno não faz nada sem receber algo em troca. E a moeda de troca é chamada de ponto.
A única motivação é o ponto. Sugestão de livros? Só valendo ponto.
Lista de exercícios? Só valendo ponto. Fazer pelo conhecimento é ser
taxado de idiota.
TRABALHOS E LISTAS
Tudo copiado. A cópia é quase sempre nítida. Conjecturo que numa turma de k alunos, apenas realmente fazem os trabalhos, enquanto todo o restante apenas copia dos colegas.
Pai Rodrigo adivinhando o futuro: Esse aluno que só copia vai taxar de vagabundo moradores de rua. Vai dizer: “emprego tem demais, basta querer!”
AULAS DE EXERCÍCIOS
Durante aulas de exercícios, ninguém faz
nada. O pedido geral é um resumão bem estilo pré-vestibular. Melhor
ainda se você dar dicas do que cairá na prova (e pensar que nem assim os
resultado são bons.) Gente pra gritar “faz um resumão aí, fessô!”
Nunca falta. Você dá aula por meses antes de avaliação e aí lhe
aparece vários que não prestaram atenção em nada, mas no dia da aula de
exercícios eles aparecem lá só pra gritar a frase anterior ou pra
escolher um exercício aleatório que sequer tentaram. Qual a razão de dar
aula se no fim é dado um resumo mágico que abre todas as provas e
desvenda todos os segredos?
LISTA DE PRESENÇA
Como aluno, confesso, nunca gostei de ir
às aulas. Sempre preferi estudar sozinho. Assim poderia estudar durante a
madruga, horário que sempre fui mais produtivo. Nunca tive problemas
com chamadas. A aprovação era minha absolvição. Por conta disso, a única
postura que adotei como professor foi a de passar uma lista de chamada e
reprovar por infrequência apenas aqueles que não obtiveram 60 pontos.
Ou seja, não precisou ir à universidade para ser aprovado? Parabéns,
campeão.
A regra da UFMG é reprovar aluno
infrequente. Tenha ele a pontuação necessária para sua aprovação ou não.
Portanto, estou isentando o aluno de um dever: frequentar a
universidade. Qual o resultado? Alunos assinam as listas pelos colegas. O
sujeito foi livrado de um dever, mas ele não quer dar nada como
contra-partida. Ele ainda quer o direito de, caso reprovado na
pontuação, fazer o exame especial.
Nem vou comentar que assinar um documento em nome de outra pessoa é crime. Tem até nome: falsidade ideológica.
Logo, se o professor deseja ser rigoroso
com a lista de presença, ele deve chamar nome a nome, como lá nos tempos
da escolinha infantil Girafinha Feliz.
Pai Rodrigo adivinhando o futuro:
Esse mesmo aluno que pede pro colega assinar a chamada, acha um absurdo
o médico que só bate ponto e vai embora. Vai reclamar também do
deputado que estava batendo dedo lá pro outro. Vai postar lá na timeline
“É um absurdo!”
PROVAS E COLAS
Esta é a pior parte e a maior prova de
que ninguém se preocupa com educação. Durante os meses de aula, o aluno
não fez nada. Porém, chegada a prova, não foi possível estudar todo o
conteúdo ou simplesmente não estudou mesmo. Qual o recurso utilizado?
Cola. A pessoa não cumpriu com suas obrigações como aluno, nada fez até o
momento da prova, porém ele ainda quer obter bom resultado. Apesar de
totalmente irresponsável, o aluno ainda acha plausível apelar para a
cola. Ainda quer uma boa nota. Isso é o absurdo dos absurdos. A
incoerência da incoerência.
Existem ainda casos mais absurdos.
Aqueles que os alunos pagam outros para fazer a avaliação em seus
lugares (preciso lembrar que aqui também se comete crime?). Chegamos ao
ponto ridículo de precisar olhar documento dos próprios alunos por conta
dessa atitude patética. Isso é literalmente comprar o próprio diploma. É
ridículo querer o diploma mas não querer fazer nada.
Pai Rodrigo adivinhando o futuro: O
aluno colador, que hoje é engenheiro porque pagou gente mais esperta
que ele pra se formar, vai gritar “Abaixo a corrupção!” aqui na porta de
casa. Ele também vai compartilhar um monte de reportagem sobre
escândalos de corrupção e vai dizer que esse país não tem jeito.
O ALUNO, O PATRÃO E O FUTURO
Enquanto considerou coisa de otário
estudar quatro horas por dia, o aluno corrupto vai gastar 12h do seu
dia, muito possivelmente, fazendo dinheiro pra outra pessoa. Ele não vai
chegar pro chefe “alivia aí, chefe!”, “quebra essa aí, patrão!” porque
ele sabe o destino de empregado molengão: rua. E ele vai dar duro,
porque, ao contrário da educação superior, valoriza o emprego que tem.
Sua timeline estará repleta de links contra a corrupção na política,
contra desvio de verbas, enquanto continua perpetuando que colar não tem
problema, assinar lista é “de boa” e pagar para fazerem suas avaliações
é coisa de esperto. E assim continuaremos sendo essa sociedade que
ainda não entendeu o valor moral e intelectual da universidade, pelos
séculos dos séculos…
Por Rodrigo Ribeiro
Em https://rbribeiro.wordpress.com/
MINHA OPINIÃO
Perfeito o texto do Rodrigo! Retrata bem o que penso!
Acrescentaria apenas um comentário no que se refere ao PLÁGIO que, é, pra mim, um dos maiores males da pesquisa científica mundial.
Conseguir pensamentos inovadores, autênticos e honestos tem se tornado cada dia mais raro. Quase tudo é copiado - direta ou indiretamente. E o pior, quando descobertos, os plagiadores agem com revolta, como se tivessem exercendo um direito e nós, professores, fôssemos os verdadeiros CRIMINOSOS! É a inversão de valores atuando em prol da hipocrisia e da desmoralização do ensino...
De tudo, sei que uma parte dos professores continua(rá) fazendo sua parte! Afinal, ainda acreditamos na educação como fonte transformadora da sociedade...
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