terça-feira, 6 de novembro de 2012

Em terra de esperança...

Tinha medo de estar certo. Poucas vezes na vida tinha sentido algo tão controvertido, um misto de alegria e desespero. Suas previsões, se confirmadas, acabariam por prejudicar não só a sua vida, mas também a de incontáveis pessoas que, como ele, dependiam da chuva e da terra para sobreviverem.

Mas a experiência não mentia. Seria seca, e das brabas. Sertão seco, quente e pobre. Era tudo o que ele não tinha pedido a Deus.

Mas ele tinha a informação, e aquela informação, naquele momento, poderia lhe dar algo que os outros não tinham. Dinheiro. Acreditava nas ciências ocultas e nas magias que lhes foram repassadas por seus ancestrais. Pais, avós, tios. Há séculos vinham fazendo as mesmas experiências, ano após ano, e sempre confirmando o que a natureza estava por oferecer.

Naquele momento, no entanto, o que restava a ele era usufruir desse conhecimento e, mais uma vez, conseguir algum dinheiro com isso.

Deixaria de plantar, assim evitaria o trabalho em vão e não gastaria à tôa os grãos de milho e feijão que poderiam alimentar sua carne.

Venderia logo os poucos bichos que tinha, pois sabia que com a seca a tendência era o preço cair, diante do aumento da oferta. Poucos teriam condições de sustentar seu gado, logo, muitos iriam vendê-los.

Por último, tentaria ganhar algum dinheiro nas bocas de aposta do mercado. Sempre em busca de dinheiro fácil, não eram poucos os que apostavam em eventos da natureza. Quando seria a primeira chuva. Quando o açude Raposa sangraria. Quando viria a seca.

Ele tinha essa informação e manteria consigo, afinal, em terra de escassez, quem tem um pouco de realidade já tem tudo. Em terra de esperança, quem vê a desgraça corre primeiro. 


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