A única coisa que separa um amador de um expert é a dedicação.
Qualquer um pode ser um gênio se dedicar o tempo apropriado e manter o
foco em se aprimorar. O melhor de tudo é saber que nunca é tarde.
Sempre ouço pessoas dizendo que não começam a aprender uma nova
língua ou um instrumento musical porque deveriam ter iniciado mais cedo,
quando crianças. Pior, escuto pessoas extremamente capazes dizendo que
não têm talento natural para uma determinada atividade. Muito
provavelmente essas pessoas estão enganadas e subestimam a própria
capacidade. Se você tiver 30 anos e começar a aprender piano seriamente
amanhã, chegará aos 50 anos de idade com 20 anos de prática e poderá ser
um prodígio. Se começar com 50, aos 70, será um dos melhores pianistas
da terceira idade. A idéia de que qualquer pessoa tem o potencial para
se tornar um expert ou adquirir uma habilidade tem recebido cada vez
mais fundamentos científicos.
Com exceção das limitações físicas de cada indivíduo, acredita-se que
os ditos “dons naturais” sejam mera consequência da capacidade de
concentração em uma determinada atividade. O talento parece ser
resultado direto da dedicação, ou do desejo de fazer melhor. Em teoria,
qualquer pessoa com dedicação suficiente para melhorar em uma atividade
ficará melhor nela com o tempo. Essa conclusão vem do trabalho do
neurocientista K. Anders Ericsson, da Universidade Estadual da Flórida,
nos EUA.
Anders estuda gênios, prodígios e experts por mais de 20 anos.
Observando o processo de aprendizagem desses “talentos”, concluiu que
não basta apenas a repetição incansável, mas procurar por um nível de
controle em cada aspecto da atividade escolhida. Ou seja, cada sessão é
uma tentativa de fazer melhor que a anterior. A maioria dos amadores
chega somente até um estágio de conforto e não dedica tempo suficiente
para melhorar. A falta de ambição nos torna medíocres.
A implicação dessa observação é simples. Qualquer um determinado a
gastar mais tempo em uma atividade, procurando melhorar a cada
repetição, pode se tornar um expert – brilhante até. Portanto, a parte
genética ou o ambiente do indivíduo não contribui mais do que para 1% do
sucesso. É possível que esse 1% seja o diferencial para ser o melhor do
mundo, mas não contribui para você se tornar brilhante em alguma
atividade. Veja no gráfico acima que a maioria das pessoas acaba em três
categorias ao começar uma atividade nova: expert, amador ou desistente.
Os desistentes são aqueles que decidem que não vale a pena continuar. A
classe dos amadores é intrigante, pois são os que ficam satisfeitos com
o nível em que estão. Reconhecemos esse padrão quando falam “Sei que
poderia fazer isso de outra forma, mas está funcionando assim então não
vou mudar”. Em outras palavras, eles passaram a desgastante fase inicial
e não querem entrar numa outra fase de estresse.
Ao meu ver, esse é o grande diferencial dos experts. O salto para
longe do amadorismo e zona de mediocridade consiste em quebrar a
barreira da paixão. A atividade fica tão prazerosa que nos apaixonamos
por ela. E é esse sentimento, essa sensação que nos motiva a seguir
melhorando.
Fonte: http://g1.globo.com/platb/espiral/2012/08/15/o-dom-da-dedicacao/
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